DESMASCARAR A DEPRESSÃO MASCULINA

 

 

        Neste artigo tratarei de explorar o que considero ser um dos maiores desafios da actualidade: a depressão masculina. Os homens deprimem-se? Sem dúvida, ainda que muitos deles não o demonstrem. Este é um tema que necessita desesperadamente da nossa atenção porque afecta muitos homens. Além de ser profundamente incompreendido, é amiúde mal diagnosticado

         Ao reflectir na minha experiência clínica com mais de trinta anos sinto-me envergonhado ao dar-me conta que me equivoquei muitas vezes ao diagnosticar a depressão masculina, não por culpa da minha incompetência, mas sim porque a verdade tem estado "ocultada".

          Durante muitas décadas, talvez séculos, a sociedade tem visto a depressão como uma condição da mulher. Em resultado disso, os sintomas têm-se "feminizado" e nós temos sido induzidos no erro de que a depressão é "um problema da mulher". Habituamo-nos a ver a depressão manifestada nas mulheres e não estamos dispostos a diagnosticá-la nos homens, a menos que vejamos neles a mesma série de sintomas. Por isso, não surpreende que muitos homens, ainda que profundamente deprimidos, não recebam tratamento adequado.

           O problema é que os sintomas da depressão normalmente observados na mulher são menos comuns nos homens. As mulheres são diagnosticadas principalmente quando exploramos os seus sentimentos. Os homens diagnosticam-se melhor prestando atenção à sua conduta. Resumindo: as mulheres sentem a sua depressão; os homens actuam com ela ! As mulheres sentem-se tristes e procuram "contacto" com amigos ou procuram cuidar de alguém. É a resposta chamada "cuidar ou ajudar", enquanto os homens libertam a sua depressão através da frustração e da ira. Tornam-se irritáveis, não contactam com as pessoas e retraem-se, enfiando-se na sua concha e dão aos seus entes queridos "o silêncio como resposta". É este "disfarce" que caracteriza a depressão masculina.

           Consideremos um exemplo típico que mostra como os homens experimentam a depressão: Estêvão é um gestor de seguros. O ano passado não chegou a alcançar os objectivos de vendas que o seu director lhe fixou. Quando lhe deram a notícia de que não receberia o seu prémio extra antecipado de fim de ano, e que o seu posto de trabalho poderia ficar ameaçado caso não melhorasse, não vai para casa triste lamentando a eventual ameaça, a qual devia ser a resposta normal perante tal situação. Não procura a sua esposa para ver se pode compartilhar o seu desalento com ela. Pelo contrário, resmunga à entrada da porta, atira a pasta ao chão e começa a gritar às crianças porque estão a fazer muito ruído. Dirige-se para o sofá em frente da televisão, pega no comando e trata de fugir aos seus problemas. Por experiências anteriores, a sua esposa sabe que é melhor não lhe perguntar como foi o dia, nem é oportuno dizer-lhe que a máquina de lavar anda a fazer ruídos estranhos. Estêvão não "contacta" com os seus sentimentos de depressão que ele agrava e cria uma cadeia de mau perder e alienação chamada uma "espiral depressiva". Podem passar semanas antes de sair da fossa.

            Em quase todos os programas de rádio em que participei sobre este tema, falei com pelo menos uma esposa que conseguiu descrever com precisão os sintomas clássicos da depressão masculina: "Fica irritável e temperamental, depois retira-se para o seu reduto e nega-se a falar. Quando responde reage com mau humor, quer seja às notícias ou à comida  e ao ruído das crianças. Muitos maus tratos podem ter como causa a depressão.

            Nas sociedades ocidentais modernas é frequente disfarçarem a depressão e esta é talvez a área mais abandonada da literatura psiquiátrica.

             O nosso mundo moderno está repleto de actividades para as quais os homens podem fugir do seu estado depressivo e refugiarem-se nelas. A depressão pode ser visível   ou oculta . Na depressão oculta os sintomas incluem a tristeza tradicional, apatia, negativismo e mudança de humor. Estes são os sintomas clássicos da depressão feminina. Nos homens a depressão está normalmente mais encoberta. Quando a depressão é tratada com êxito, a violência e a ira desaparecem. Os homens necessitam de ajuda para fazer frente à perda de um ente querido ou a uma falta de emprego. Ser despedido do trabalho pode ser tão devastador como a morte de um pai.

              Não é possível referir aqui todas as causas da depressão, todavia os líderes cristãos encontrarão que a compreensão das causas da depressão poderá servir quando tratam de ajudar outros a vencê-la.

              Factores genéticos podem também causar depressão. Já foi diagnosticada depressão severa em vários membros da mesma família. Felizmente este tipo de depressão talvez seja a mais fácil de tratar já que a medicação está especificamente preparada para resistir  aos efeitos dos genes nos neurotransmissores cerebrais. Os problemas hormonais e das tiróides, comuns nas mulheres, podem também causar depressão. Algo chamado "sero tonina" explica porque as mulheres se deprimem quando cai o seu nível de estrogénio cada  mês, depois de dar à luz e com a chegada da menopausa. A perda de serotonina causa depressão, mas nestes casos os anti-depressivos podem também fazer maravilhas.                        Mas estas causas não explicam a expansão da depressão masculina que vemos  actualmente. A única explicação é que o stress é o culpado e em certos aspectos também  agrava a depressão feminina.

                 Para tratar o stress é necessário usar os mesmos anti-depressivos utilizados nas formas genéticas da depressão. No entanto, quando se combinam com a psicoterapia conseguem-se maiores oportunidades para vencê-lo, sem esquecer a necessidade que muitos homens deprimidos têm de recorrer a um guia espiritual.

                  Aqui a mensagem é clara. Temos de ajudar os homens a serem mais conscientes quando estão deprimidos e animá-los a procurar ajuda apropriada. Os homens normalmente não procuram ajuda. Vêm a depressão como um sinal de debilidade, porém a sua cobardia para não lidar com a sua depressão é que é uma verdadeira debilidade !

                   Lamentavelmente muitos homens deprimidos, incluindo os que são cristãos, recusam-se a serem tratados. Alguns que procuram tratamento não respondem satisfatoriamente. Incluso quando o tratamento tem êxito, pode ser difícil viver com um homem deprimido. As esposas, as mães e as filhas de homens deprimidos necessitam de toda a ajuda que possam receber para superar essa dificuldade. Os homens deprimidos também frustram e perturbam aqueles que mais os amam. É como sentissem necessidade de culpar alguém pela sua depressão, e aqueles que mais os amam são os alvos mais fáceis.

                    Qual é a coisa mais importante que uma mulher pode fazer pelo marido deprimido ? Sem dúvida é comunicar amor e aceitação com todas as forças que possa. Também pode ser aconselhável uma intervenção sobrenatural e para isso é preciso confiar em Deus para obter a graça e a paciência que necessitará. Há que frisar que o seu ente querido não escolheu estar deprimido. Podem existir excepções raras, porém a maioria dos homens abandonariam a sua depressão se pudessem. As mulheres necessitam compreender que a má conduta do homem é a causa da sua depressão e não dele próprio.

                      Com a ajuda de Deus, o amor incondicional pode fazer a diferença a longo prazo, tanto a ambos os esposos como a outros membros da família. Ainda que ele nunca mostre nenhum apreço por esse amor, chegará o dia em que a esposa ou mãe olhará com grande satisfação como fizeram frente à situação. Para  ela, como para outros desafios na sua vida, a promessa de Deus a Paulo também aqui se aplica: "Basta-te a minha graça, porque o meu poder aperfeiçoa-se na debilidade" (2 Cor.12:19).

 

 

 

Original: Dr. Archibald D. Hart, 2007-06, "Desenmascarando la depresión masculine"

Tradução:  Manuel Morais, 2007-06